POEMA

Preciso de uma poesia que muito convença a tudo que se
pensa.
Preciso de uma poesia que fale urgentemente das palavras de
amor, de frases singelas tiradas do fundo mais secreto da vida.
Estou precisando também de uma poesia tirada do chão
pisado por todas as civilizações. Preciso das palavras de ordem
das multidões inflamadas e daquelas letras que compuseram os
tropicalistas, dos cartazes que Maiakovski exibia para os
operários Russos.
Da autêntica concentração e das reflexões dos monges
filósofos, para ter uma poesia que muito convença a tudo que se
pensa.
De uma poesia em que os temas sejam as modas de viola, os
caipiras, os ribeirinhos, os passarinhos, o luar.
Uma poesia que fale do Rosa, do Catulo, do Waldemar, do
Isoca, do Jesus, do Juraci, do Tapajós, do Guamá, do Tocantins,
da Amazônia, do Marajó, do carimbó, do Adelermo, uma poesia
que fale só do Pará.
Preciso de uma poesia que tenha a sensação suave provocada
pela chuva após o imenso calor de Belém.
Eu quero e preciso dos raios do sol tão poéticos que douram
essa poética Belém, desses momentos poéticos para que
convença a tudo o quer se pensa.
Preciso de uma poesia que relate Brigue Palhaço, que revele
verdades e mentiras Lavor Papagaio, que ressuscite Angelim, que
revisite Murucutú.
Que me faça presente em todas as gerações que habitaram as
ruas da Cidade Velha, principalmente os contemporâneos que
subiam e desciam para o Passo da Ladeira. Quem vai me dar uma
poesia que me faça flutuar da Feira do Açaí a Cotijuba e depois à
praia Grande do Mosqueiro?
Preciso de uma poesia que me faça rir dos antagônicoscômicos
baratistas e assunções. Uma poesia que venha ser
também dos Bandeirantes, dos Inconfidentes, dos retirantes
nordestinos, lá do Morro da Mangueira, da Feira de Caruaru, da
Baixa do Sapateiro dos Caprichosos e Garantidos Parintins, de
Alcântara, das festas do Divino, do Padre Cícero, dos romeiros
de Aparecida, dos romeiros de Nazaré.
Preciso de um tema que fale dos Andes, da Grécia, Brasis e da
Pérsia, dos Zens... uma poesia que me convença poeta, que me
convença Pessoa, Camões.
Uma poesia que me resgate o latim, tupi-guarani , que ainda se
escreva Machado, Vinícius, Drummond, Castro Alves, Cora
Coralina, Thiago de Melo, Antonio Tavernard, Rui Barata.
Uma poesia que muito convença a tudo que se pensa todos os
dias, todas as horas, todos os momentos.
Poesia é carinho, é paixão, é afago na pele, na alma. Poesia é
amor. Poesia é amor.
Preciso desesperadamente de uma poesia.

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