SOLIDÃO

Os versos
não são meus
são como filhos
que se desgarram
e num sem dizer adeus
partem para o mundo

não fico alegre
mas em mim não há tristeza
afinal o destino dos versos
conduzir-se-ão à sutileza
na alegria dos caminhos

feito a flor no declarar
de seu matiz
igual rio seguindo
seu rumo sozinho
e a árvore no seu tempo nutriz

versos que escrevi
sem obrigação
em gestos acanhados
apresento-os à humanidade

e vão já longe
sem endereço
e sinto saudade
e compadeço-me

Flor
cada pétala o meu destino
Árvore
os frutos pedem para cair
rios
suas águas fogem de mim

passam árvores
rios e flores
e versos
passo eu
e sozinho fico pelo universo

(Renato Gusmão)

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