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N’alguma tarde líquida de luz, à espera de um
sonho bom levou-me à beira daquele cais onde se ancoravam navios e homens
armados e eu, ali parado, "só com meu arcabuz”. Minha ilusão era mais
intensa do que encontrar, naquela tarde líquida de luz, a mulher que passara ao
meu lado na noite que antecedeu o dia daquela vespertina esperança, em que a
poesia se fez mais altiva como nunca em tempo algum se fez; assim como
derramar-se-ia ao som de um líquido jazz e esfuziante blues. Tudo era uma tarde
líquida de luz. Senti imensa vontade de gritar ao mundo que me apaixonara em um
segundo ao vê-la. Mesmo assim, o som da voz do mar era mais alto e impedia meu
grito que nem se quer ecoou e nem se espalhou ao vento daquela tarde líquida de
luz. Noite se fez, outra vez... Eu, sozinho, fiquei olhando as estrelas, todas
as constelações. Meu mirar era naquela mais reluzente, em que meu infalível
arcabuz jamais erraria o sorriso mais poético que me levou ao sonho naquela
tarde líquida de luz.
(Renato Gusmão)
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