Ausência (para Gabriel García Márquez)

certo dia
não te conheci
nem de perto
ou ausente fui
no atravessar de tuas ideias
meu coração alimenta-se
das ilusões
e ainda espera por palavras

em cada página dos livros
contar-me-ei de ti
magnificentes fábulas
até cansar-me os olhos

as frases que parecem
feitas em minha direção
multiplicaram-me
em cem anos de solidão
e as pálpebras exaustas
trilharam-me às madrugadas
feito cães

hoje
saudade é agora
em busca de suas presas
a entornar oceanos
lacrimais e tristes
e as estrelas
com enormes olhos azuis
apagam-se negras
das cortinas noturnas

(Renato Gusmão)